quarta-feira, 24 de agosto de 2011

1.1 Lugar de mulher também é no rádio


“Monika Venerabile foi uma das primeiras mulheres a derrubar o velho preconceito da voz masculina nas FMs, que até algum tempo atrás funcionava como o Clube do Bolinha, onde “a mulher só participava nos horários noturnos, era vista somente como uma voz sensual”.
Atualmente, o conceito está mudando, refletindo a própria liberação feminina que vem aos poucos conquistando seu espaço e prova disso é que as pesquisas têm demonstrado que a voz feminina é tão bem aceita quanto a masculina e muitas emissoras já estão aderindo ao novo conceito”. (ROTGER, 1985)

Um time de belas vozes femininas ganha cada vez mais espaço nas rádios e começa a ocupar um lugar, predominantemente, masculino.

“A única voz feminina que foi usada na Rádio Cidade do Rio (que tenho conhecimento), assim mesmo só em vinhetas, foi a voz da Cristina Bandeira que foi a secretária do Clever Pereira e depois foi minha secretária. Eu gostava dela, mas não concordava muito com o tom semi-sensual que pediram para ela fazer para a vinheta. Como a Rádio Cidade hoje é rock eles tiraram a voz da Cristina da Cidade, mas ela fez uma outra vinheta, só que mais sóbria, para a JB FM que está no ar até hoje”. (TOWNSEND, 19/03/04)

Ninguém sabe ao certo quem são elas, mas suas vozes são facilmente identificáveis. Basta ligar o rádio a qualquer hora, para ouvir, com certeza, uma bela voz feminina.
“A importância da locução feminina é a mesma importância da mulher como uma das vozes sociais. No caso, não apenas por sua diferença de gênero sexual, mas por todas as diferenças que este fato impõe: desde suas idéias e comportamento impressos na “fala feminina” até as diferentes alturas sonoras de sua voz”. (ZAREMBA, 2004)

As emissoras investiram muito no mercado e descobriram que a mulher não ficava devendo absolutamente nada ao cast masculino.
“Na primeira metade do século passado eles eram chamados de “speakers”. Os que liam as notícias eram os “locutores-noticiaristas”, com suas vozes impostadas e sóbrias. Nos anos 50, depois de duas guerras mundiais, sob uma forte influência dos Estados Unidos, os locutores se descontraíram, começaram a tocar música e viraram os “disc-jóqueis”. Na segunda metade da década de sessenta Rádio Globo aboliu o termo “disc-jóquei” e os locutores de AM passaram a ser chamados de “comunicadores”, como são até hoje.
No final dos anos 70, com a implantação da Rádio Cidade FM do Rio, estabeleceu-se uma nova variante do locutor: o “apresentador”. A idéia era criar um novo estilo de locução que se diferenciasse tanto do gênero preso e impostado das rádios Mundial e Tamoio AM quanto da comunicação popularesca das rádios Globo e Tupi AM.
Não importa o termo: locutor, apresentador ou comunicador. O bom profissional que fala ao microfone de uma rádio FM no Brasil (que não seja de formato popular) “se faz”, ele não vem pronto.
“Fazer” um locutor de FM significa trabalho, muito trabalho. Para transformar um locutor mediano em um excelente locutor de FM é preciso muita conversa, ensinamento, treinamento, orientação, catequização, imaginação, fé e até mesmo um pouco de psicologia. Um verdadeiro “sacode”!
O “aircheck” é a ferramenta mais importante de um locutor profissional de rádio. “Aircheck” é a rotina de gravar o horário (performance) do profissional em questão para que ele mesmo (ou outra pessoa) depois ouça e faça uma autocrítica (ou crítica) de seu trabalho, assim verificando como e onde ele pode se aperfeiçoar.
Até os mais experientes (e inteligentes) locutores fazem airchecks mesmo depois de 20, 30, 40 anos de vida profissional. Mas não bastam os airchecks. Em um país de dimensões continentais, com uma discrepância social grande e diferenças culturais tão distintas é preciso muito mais do que airchecks. Para se tornar um locutor de FM com todos os elementos de que ele precisa para cativar o ouvinte com simpatia, inteligência e conhecimento (e ao mesmo tempo ser econômico nas palavras) é preciso um treinamento específico e especializado.
Também não adianta o responsável pela rádio pensar em chamar alguma pessoa que tenha um pouco mais de cultura, que saiba falar inglês ou que seja falante e desenvolto. Fazer locução é uma arte que, como qualquer arte, só será aperfeiçoada com o passar do tempo e, assim mesmo, com muita dedicação.
Você quer ser um bom locutor de FM? Então aí vai um conselho: converse muito com pessoas de fala inteligente e de vocabulário rico. Esteja sempre muito antenado em tudo que acontece no universo, na comunidade e na vida dos ouvintes do mercado em que você trabalha ou pretende trabalhar.
Se você, diretor ou dono de rádio, e quer um bom time de locutores, então contrate um especialista. Carlos Townsend já treinou mais de cinqüenta locutores de FM.
O final dos anos 60 e o início dos anos 70 constituíram uma época muito rica de locutores de rádios nos Estados Unidos no formato Top 40. Abaixo você encontrará os 5 melhores disc-jóqueis daquela época em eleição realizada entre os ouvintes:
1 The Real Don Steele, KHJ Los Angeles, 30 de junho de 1969.
2 Joe O'Brien, WMCA Nova York, 1965.
3 Steve Goddard, WFAA Dallas, 1 de outubro de 1976.
4 Charlie Tuna, KHJ Los Angeles, 23 de fevereiro de 1969.
5 John Landecker, WLS Chicago, 25 de março de 1974.
Fonte: The Reel Top 40 Radio Repository”

(<http://www.workstationdigital.com/consultoria/locutor.htm>) out. 2004

Quando se fala em locução feminina em FM, os primeiros nomes que vêm à cabeça das pessoas são os de Monika Venerabille e o de Adriana Riemer.

“Eu acho que tem que trabalhar, mais do que qualquer outra coisa. É muito trabalho mesmo, pois se não não vai não... As pessoas acham que a chance vai pintar, a chance não pinta, a chance passa por ali, você vai lá e pega na esquina, entendeu? - quase vai. Cara, eu fico pensando se eu não tivesse ligado o rádio um belo dia, saindo da Salles, se eu não tivesse saído mais cedo aquele dia. Eu estava injuriada porque não estava pintando trabalho, se eu não tivesse pego meu carro, não tivesse ligado o rádio na Antena 1 naquela hora, o cara só falou uma vez o anúncio, você acredita? Que estava precisando de uma locutora, eu senti uma coisa, que minha vida ia mudar pá!!! Mudou, é o destino”. (RIEMER, 1989, p. 4)

Fátima Bernardes (1992, p. 13) diz que o “locutor seria aquela pessoa que trabalha só com a voz e não com a imagem. Temos então, locutores de rádio e locutores que trabalham em televisão só com off ou apresentando notícias”.
“A locução refere-se ao modo de falar, onde utilizamos a linguagem e a expressão. A locução nada mais é do que a fala ao microfone, onde expressamos idéias e sentimentos. Não existem fórmulas mágicas para se formar um bom locutor. Existem recursos que quando bem aproveitados evidenciam um bom trabalho”. (CÉSAR, 1990, p. 93)

A Rádio Fluminense FM foi a emissora que formou 99% das profissionais que estão no mercado, isso graças ao jornalista Luiz Antônio Mello.
“Mas antes mesmo de falarmos da Fluminense FM, que teve um papel importantíssimo em relação as vozes femininas, acho que para o trabalho de vocês ficar completo vocês não poderiam deixar de pesquisar sobre a voz daquela que talvez tenha sido a maior locutora carioca de todos os tempos, Maravilha Rodrigues. Ela trabalhou na décadas de 60 e 70 na Rádio Jornal do Brasil AM. Muitas destas “personalidades” femininas entrevistadas por vocês tem seu valor, mas elas foram mais “talk show hosts do estilo AM” do que propriamente locutoras no sentido clássico da palavra. Já a Maravilha Rodrigues foi, disparado, a melhor voz feminina dos anos 60 e 70. E, como disse, ela trabalhou tanto na JB FM como na JB AM, a emissora que era a mais completa tradução da palavra “broadcasting”. As audiências das JB AM e FM eram compostas também por formadores de opinião daquela época: publicitários, jornalistas e até mesmo políticos da época conheciam a Maravilha Rodrigues. Ela era sinônimo de profissionalismo, correção, pronuncia, credibilidade e, acima de tudo, de classe...muita classe.
Me admiraria muito se o Mansur, no mínimo, não confirmasse as minhas palavras. Ele não só conheceu a Maravilha Rodrigues como também trabalhou no estúdio ao lado dela. Seria uma incorrigível injustiça se ela não recebesse um destaque tanto na pesquisa de vocês como em qualquer matéria sobre rádio, ainda mais sobre a locução feminina.
Em FM, depois da Maravilha Rodrigues acho que o maior mérito vai para o que a Fluminense implementou nos anos 80. O time inicial de locutoras da Fluminense que incluía a MoniKa Venerabile, Milena Cyribelli, a Márcia Santos, a Selma Boiron, a outra Selma (Vieira, acredito eu) e outras era bárbaro. Embora, entre elas, houvessem vários denominadores comuns (elementos e diretrizes da direção da rádio) estas locutoras demonstravam uma parte de suas personalidades o suficiente para se diferenciarem umas das outras. Já isso não acontecia na década seguinte na Antena 1 onde elas eram parecidas demais umas com as outras. Acho até válido o que o Romilson (romilsonluiz@openlink.com.br) fez estabelecendo um estilo bem distinto onde o ouvinte tinha a impressão de estar ouvindo a mesma voz de manhã, de tarde e de noite.” (TOWNSEND, 2004)

No rádio AM, os primeiros nomes de comunicadoras mais lembrados são o de Cidinha Campos, Nena Martinez, Zora Yonara, Juçara Carioca e o de Daisy Lucidi. Sem esquecer que a Rádio Nacional foi o grande celeiro das primeiras vozes femininas do rádio.

“Indagada sobre o papel do comunicador nesse tipo de programa de rádio, em uma entrevista publicada na edição de junho de 1989 do jornal especializado Rádio X, Cidinha Campos afirmava que se sentia um pouco como porta-voz da sociedade: “eu sofro os problemas como cidadã. Existe aquela sintonia de eu me colocar ao lado do ouvinte nas mesmas dificuldades, pois eu nunca faço a mulher-maravilha. (...) Você tem que passar a sua vida para que eles te entendam. O ouvinte sabe tudo de mim e essa identificação cria a intimidade. Eu quase chego a ver a cara do ouvinte em casa”. (MOREIRA, 1991, p. 70)

Para quem está começando, o conselho das locutoras mais experientes é quase o mesmo: gravar e levar pilotos de programas para as rádios, produtoras e agências; batalhar por oportunidades, sem ficar de braços cruzados; aprender inglês; e procurar aprender o máximo para tirar o maior proveito possível desse trabalho tão gostoso.
“Certa vez, em 2000, fui à ex-Rádio Nova FM (atual MPB FM) entrevistar os colegas para o livro sobre Rádio que eu estava escrevendo. E conversando com o Paulinho Altunian (atual FM O Dia), este disse uma coisa que me marcou muito: "Mônica, onde é que você estava??? O Renan (Miranda - gerente do SDR) ficou duas semanas "caçando" um locutor para contratar e, há dois dias é que conseguiu encontrar. Se você tivesse mantido contato com a gente, eu teria te dado um toque”. (SAMPAIO, 2004)

Um bom curso de fonoaudiologia, para aperfeiçoar a voz, também ajuda. Muniz Sodré apud Fernando Mansur (1984, p. 71) descreve que “o verdadeiro prazer da fala está em seu descompromisso com uma finalidade racionalizada ou produtiva qualquer. Está no excesso, no gasto livre, na gratuidade que aniquila o sentido econômico da oferta e da procura”.
“Ao serem exigidas demais, as cordas vocais podem entrar em fadiga e inchar. O resultado é a voz rouca. Para que elas não sofram lesões, os especialistas recomendam moderação. Quem usa a fala como instrumento de trabalho precisa fazer pausas ao longo do dia para descansar as cordas vocais e deve dormir, no mínimo, seis horas por noite, orienta a professora de expressão verbal Stella Gulo, de São Paulo”. (REVISTA ANA MARIA, 2002, p. 31)

Encerrando, as locutoras asseguram que o trabalho no rádio é difícil, mas pode ser considerado uma verdadeira cachaça, um vício, pois quem entra não pensa em sair.

“Evite pigarrear. Esse movimento provoca uma espécie de soco nas cordas vocais que, por isso, podem inchar e formar nódulos.
Não tente dar uma de cantora de ópera ou forçar a voz, imitando sons sem conhecer as técnicas para isso.
O excesso de esforço pode causar lesões nas cordas vocais.
Golas justas demais dificultam a respiração e interferem na vibração do som. Assim, procure usar blusas confortáveis”. (REVISTA ANA MARIA, 2002, p. 31)

2 comentários:

  1. Ótima matéria - gostaria de saber mais sobre a locutora Maravilha Rodrigues (seu rosto, sua vida, sei que ela não está mais entre nós - elo tempo que passou desde aqueles momentos na JB AM e FM). Quanta saudade de sua voz. Uma suavidade e uma postura sem par...
    Osvaldo Silva

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