quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Maldita 30 anos – novo livro e filme nas telonas do país - Luiz Antonio Mello

 


No ano que vem a Radio Fluminense FM, a Maldita, faria 30 anos de idade. Por isso, decidi reescrever meu livro “A Onda Maldita”, um romance emocionado, muito emocionado, que conta a história detalhada da rádio Fluminense FM Maldita, que nasceu em 1º de março de 1982 . O livro que estou reescrevendo vai sair ate fevereiro, em papel, pela editora Nit Press. Também no ano que vem o livro vai virar filme, produzido e dirigido por meus novos amigos da Luz Mágica Produções,  Renata Magalhães e Cacá Diegues. O roteirista é um dos melhores do país, L.G. Bayão.
Quando comecei a escrever o novo livro senti uma brisa elétrica, alegre suave, sentar perto de mim. Era a Geração 80. Veio me visitar. Enquanto escrevia, a Geração 80 gritava “solte mais livro! solte mais livro!”. Liberei mais texto. Fui atropelado por uma comoção profunda porque a presença da Geração 80 está muito viva em muitos de nós. Afinal, foi a geração da abertura política, do fim dos porões, da dor, da tortura, da perseguição. Celebremos os anos 80!
Algumas cenas desfilaram em minha cabeça em slow motion. Essa, da foto, é de 1983. Estamos eu, Monika Venerabille e Cristina Carvalho, também locutora. Lembranças. No dia em que o governo implicou com o slogan “Maldita” por achar que era coisa das trevas e arrancou a palavra do ar, Dr. Alberto Francisco Torres, já falecido, (saudade, Dr. Alberto, muita saudade), então presidente do Grupo Fluminense, dono da rádio, saiu em campo. Dr. Alberto era a síntese da vanguarda, da rebeldia, da ética, do alto de suas dezenas de anos nas estradas da vida, e torcia ardorosamente pela Rádio e por nós, a quem chamava carinhosamente de “meus zagueiros”.
Ele me pediu um texto explicando o porque de “Maldita”. Escrevi dizendo que a rádio tocava os chamados “malditos” como Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Frank Zappa, The Who, enfim, tocava os “banidos” da mídia convencional, logo “malditos”. Além do mais, só tinha locutora mulher (um sacrilégio naquela época) e estava comprometida até o pescoço com a inteligência, com a essência, com a qualidade existencial. Dr. Alberto pegou meu “laudo”, levou até o governo e venceu. Depois de semanas fora do ar, “Maldita” voltou. Lógico que foi muito difícil escrever esse livro. Muito. Especialmente essa edição, a derradeira, onde faço uma catarse. Sofri pra cacete porque tudo aquilo, toda a revolução, passo a passo, me veio a cabeça. Pior, me bateu no coração, na alma.
Quem chegou a ouvir a Maldita, fase 1982-1985? Quem leu o livro na primeira edição? O que sentem? O que sentiram? Quem ouviu falar da rádio nessa fase? Escrevendo sobre “A Onda Maldita” eu vi Lobão entrar na minha sala com uma fita de rolo embaixo do braço. Eu não conhecia Lobão, mas seu produtor, gente finíssima, amigão, Ignácio Machado, morto precocemente. Ataque cardíaco. Foi duro. Bom, vamos lá, a fita do Lobão era, nada menos, do que seu primeiro disco-solo depois que ele saiu da Blitz. Sim, Lobão foi baterista da Blitz e seu primeiro disco sozinho foi o lendário “Cena de Cinema”. Na guitarra Lulu Santos, no baixo o amigo Antonio Pedro Fortuna e nos backing vocals Marina Lima. Botamos a fita no ar. Explodiu! Sucesso total. A gravadora RCA (não mais existe) abocanhou e lançou.
Aí você diz “lá vem esse cara se lamuriando, cheio de saudades...”. Não, meu caro. Saudade a gente só sente de algo que acabou. E o projeto Maldita 1982 só não está no ar porque falta Rádio FM para transmitir. E eu tenho certeza que se puser a mesmíssima programação que foi ao ar em 1º de março de 1982, em três meses a Maldita estará em quinto lugar em audiência partindo pra cima das outras. Isso é certo. Questão de estatística projetada. Afinal, quando saí da emissora em 1º de abril de 1985 ela estava em terceiro lugar no Ibope. Logo, não sinto saudade do que ainda existe. Que virou lenda.
Sinto sim uma dura saudade de Dr. Alberto, de meu “irmão” Samuca Wainer, morto num desastre com o carro de reportagem da Globo em 1984, de Carlos Lacombe (que chamávamos de “homem-baile”, tamanha energia, alegria) morto também num acidente , enfim, pessoas que jogaram todo o afeto e competência no projeto e hoje não estão mais aqui. E Renato Russo? E Cazuza? Porra! (desculpem). Renato e Cazuza gostavam de ligar para a rádio de madrugada e ficavam falando, falando, falando no ar. Alguém aí se lembra da “Madrugada Maldita”? Falava Serguei, falava Ângela Rô Rô, falava Paula Toller.

As cenas se misturavam enquanto escrevia os textos. Maurício Valladares, meu amigo, chegando a rádio com uma fitinha K-7 dos Paralamas tocando “Vital em sua Moto”, gravação caseira. O papo de Maurício com Liliane Yusim (minha grande amiga e apresentadora do programa Rock Alive), mais Paralamas está reproduzido no livro “Vamo Batê Lata” de Jamari França. Na cola dos Paralamas, veio a Legião. E depois Bacamarte, Kid Abelha, Zero, IRA!, Titãs, Circo Voador, Maria Juçá, Perfeito Fortuna, Márcio Calvão. Na mesma época, o Barão. Tudo incendiava ali naquele micro-estúdio no prédio do jornal O Fluminense defronte a rodoviária de Niterói.
O objetivo deste livro não é tratar de “coisas que o passado levou”, e sim de massa viva, guitarras que estão na nossa mão, tocando, idéias que querem ir para as ruas. A Maldita foi feita para o passado, para o presente e para o futuro porque todos nós, sem saber, éramos e somos existencialistas. 

Agradeço a todos por ontem, por hoje e por sempre. Agradeço especialmente aos inventores da internet, sem o que não haveria isso aqui, mais desabafos, liberdade, ternura, poesia orbitando a Terra à bordo dos satélites de Comunicação. P.S. – Alguém sabe me dizer se os inventores da internet ganharam o Nobel de Ciência? Caso não tenham ganho existe explicação?

http://colunadolam.blogspot.com/2011/10/maldita-30-anos-novo-livro-e-filme-nas.html

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