quarta-feira, 24 de agosto de 2011

1.3 Um legado de competência e criatividade


“Seriam seis locutoras, mas duas já tinham assegurado suas vagas. Liliane Yusim, jornalista, nem precisou de testes. Na época, era repórter do programa de Cidinha Campos na Tupi AM, e tinha um inglês impecável. Ficou tudo acertado e ela viajou para os Estados Unidos para voltar na semana da estréia. A outra locutora chamava-se Monika Cristina. Encontrei-a na porta do elevador com um walkman pendurado e cara de choro. Tinha acabado de ser demitida da Fluminense AM, onde tinha um programa, por desobediência e insubordinação. Ou seja, ela tinha a garra que procurávamos para a Fluminense. Pedi que ela esperasse na portaria do jornal e subi para falar com o então superintendente. Ele concordou em revogar a demissão, desde que eu me responsabilizasse pelos atos daquela garota de dezessete anos. Tudo bem. Monika Cristina foi para Porto Seguro com a vaga garantida na Fluminense. Só fez uma exigência: queria “matar” a Monika Cristina. Nascia então a Monika Venerabile”. (MELLO, 1999, p. 90)

É de capital importância para a preservação da memória nacional que sejam envidados todos os esforços no sentido de salvaguardar os testemunhos mais relevantes dos diferentes setores da sociedade.
“Mylena Ciribelli começou como locutora de rádio e acabou ganhando fama na TV.
Ela começou pelo rádio, meio por acaso, e diz que esse é o melhor caminho.
– Fui atrás de um estágio de redatora e o chefe da Rádio Fluminense estava procurando locutoras na mesma hora. Como já estava lá, fiz o teste e passei. Foi tudo meio no susto mesmo. Depois não parei mais – disse”. (BOA CHANCE, 1995, p.1)

No mundo da mídia, hoje tão valorizado e presente no cotidiano de cada cidadão, há também que se proteger e resgatar seus marcos históricos, em favor da plena compreensão de sua trajetória.

“As outras locutoras selecionadas foram Selma Vieira, Selma Boiron, Edna Mayo e Cristina Carvalho. Foi o time de estréia. As meninas passaram incontáveis horas na chamada “escolinha do professor Amaury”: um estúdio de gravação que improvisava um estúdio ao vivo”. (MELLO, 1999, p. 91)

Na apresentação do livro Estilos de Locução (1992, p. 3) afirma-se o seguinte “perde-se o que não é documentado. E não queremos perder o conteúdo rico e didático das palestras e debates organizados pela Escola de Comunicação. Impressão é a tinta guardando a palavra. É também um conjunto de idéias sobre um fato ou questão”.
“O Rádio tem uma história que precisa ser conhecida e reconhecida. É necessário valorizar os artistas que tiveram que aprender trabalhando. Mulheres que conquistaram um espaço, que se tornaram pioneiras, e enfrentaram desafios de uma época em que o trabalho feminino ficava restrito ao lar.
Para concluir, usamos um trecho do livro A Mulher Brasileira e Suas Lutas Sociais e Políticas, de autoria de June E. Hahner. “Afinal, a história como tem sido escrita em seu sentido mais amplo, fica incompleta e, inevitavelmente incorreta. A mulher é essencial para o alcance de uma visão equilibrada e multidimensional da realidade, passada e presente”. (TESSER, 1994, p. 5)

Aumentando sua expressiva penetração no rádio, a locução feminina vem deixando um legado de competência e criatividade que vem influenciando decisivamente essa atividade no país, sendo esta a justificativa para a relevância deste Projeto. No site http://www.evirt.com.br/mulher/cap.10htm diz o seguinte “nossas ondas Hertz de amplitude modulada nunca estiveram tão femininas”.
“Também no elenco fundador da emissora da praça Mauá estava Ismênia dos Santos. Locutora, produtora de programas femininos e infantis, Ismênia mais tarde reinaria no Departamento de Radioteatro - futuro domínio de Vitor Costa”. (SAROLDI; MOREIRA, 1984, p. 22)

Nada mais legítimo, portanto, que se preserve esta contribuição, por intermédio de pesquisas, constituindo, portanto, um dado a mais no acervo da história do rádio e sua importância na configuração do perfil cultural da nação.
“O que eu posso lhes dizer sobre a locução feminina é que quando eu escolhi e treinei o primeiro time de locutores da Rádio Cidade do Rio havia uma oitava voz que era a de uma mulher, já que minha intenção era de inaugurar a Rádio Cidade do Rio com uma voz feminina. O nome dela é Glória Freitas e acredito que hoje seja uma jornalista da redação do Rio, de um dos jornais da Rede Globo.
Ela chegou a ir até as últimas etapas do treinamento que teve várias fazes em um período de 90 dias. Ela só foi cortada do time (em comum acordo com ela mesma) na semana anterior a inauguração da rádio por um simples problema de coordenação motora. Entre as várias inovações que a Rádio Cidade introduziu uma foi a de ter apresentadores também operando o equipamento. Até então isto não existia no Brasil. Locutores e operadores ficavam cada um em um estúdio dividido por um aquário.
A Glória é uma excelente voz e tinha uma personalidade interessante, sem afetações. Ela também conseguia operar o equipamento razoavelmente. O problema era que não havia jeito dela fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ela simplesmente não dava conta de operar e falar ao mesmo tempo. Tanto eu, como ela, como toda equipe ficamos todos muito tristes com a não inclusão dela neste primeiro time. Guardo boas lembranças dela até hoje”. (TOWNSEND, 19/03/04)

Existe uma cultura radiofônica feminina peculiar, que não deve desaparecer, afinal, as mulheres, também, fazem parte da história da comunicação. No seu livro Cyro César (1990, p. 111) descreve que “a mulher vem conquistando a cada dia um espaço cada vez maior dentro do rádio”. Este é o sentido que preside a apresentação do presente projeto, contando com o acolhimento do ilustre público interessado no tema.
“E, quando faltava um mês para o estouro da boiada, o LAM botou anúncio no jornal convocando as candidatas a locutoras: “Precisa-se de locutoras”, bem grande. E quanto ganharia se existisse, uma loc-oper-apres-anunciadora de noticiosos? O mesmo que um homem? Nãããão, disse LAM. Aqui, vai ganhar mais. O Eliakim Araújo, homem de rádio, muito ligado a um seleto sindicato paralelo dos bons apresentadores, participou da histórica reunião em que se discutiram salários e direitos. Afinal, tudo era uma grande novidade. Percebi que nunca tinham pensado nisso, mesmo!
Pintou de tudo, de manicure a dentista sem consultório, cantoras da noite, dubladoras de filmes...pornô, por acaso. E veio a UFF inteira. Uma beleza! LAM tava eufórico. Ah, no meio de 200 candidatas, tinha duas locutoras! Imediatamente contratadas, também eufóricas. Uma delas gozadíssima, arrumadiiiiinha, mãe de uma atriz. Veio com nome artístico, Edna Mayo. A outra era Selma Vieria, que fazia programa na Manchete AM, uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. Seu sonho era passar no primeiro concurso da PM, fazer, pelo menos, duas faculdades ao mesmo tempo e, quem sabe, um dia ir à guerra. Muito Rock and Roll, a Selma Vieira. Boas e grandes figuras, a Edna e a Selminha. Bom, e as outras? Vieram da UFF. Ficavam sentadas, quietinhas, olhão vivo naquela mesa da som, naqueles botões todos, e na minha boca, o tempo todo (o LAM me pediu para ser o modelo, o padrão de locução da rádio). Era uma sensação estranha, a que já me acostumei. Tipo Wimbledon, olho na raquete!
Honra seja feita, verdade seja dita... Hoje, ao virar o dial em todo o país, as Monikinhas estão aí, no ar. Legal – não se mexe em time que está falando!” (VENERABILLE apud MELLO, 1999, p. 37)

Esse documentário oferece uma contribuição documental visando auxiliar estudantes e profissionais da área de comunicação, no sentido de um conhecimento mais profundo da locução feminina no rádio AM e FM carioca, a partir dos anos 30.

“Locutor: a ele cabe a leitura dos textos preparados pela equipe de jornalismo, o script. Muito de responsabilidade está em suas mãos - ou melhor, em sua voz, pois é através dela que a informação chega até o ouvinte. A leitura correta, a interpretação exata, é fundamental para que a mensagem não seja deturpada. A função de locutor é, na prática, desempenhada tanto por jornalistas como radialistas”. (ORTRIWANO, 1985, p. 102)

O material servirá para consultas futuras, por todos os que assim o desejarem. Sendo o documentário apresentado em CD, ficará mais fácil a absorção de seu conteúdo pelos interessados, pois poderão ouvi-lo fazendo alguma outra coisa, assim como o rádio.

“O rádio tem toda uma magia, é muito criativo. Eu sou uma pessoa de desafios. Aqui eu faço o que quiser.
Eu acho que o rádio cresceu muito nos anos 70, na época da Rádio Cidade. Porque aí revolucionou o rádio, mas daí pra cá muitas estações pararam, ficaram ainda na descontração, perguntando como está o tempo lá fora. Abobrinhas têm demais e fazer rádio não é fazer abobrinhas... Fazer rádio é você pegar o público... pegar o cara que está passando na rua... pegar, vem me ouvir...” (RIEMER, 1989, p.4)



Um comentário:

  1. Selma Vieira era uma pessoa INCRÍVEL. Um dia a entrevistei para o jornal do meu colégio e ela foi de uma educação, simpatia e paciência inesquecíveis. Por onde andará essa menina tão querida?

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