quarta-feira, 24 de agosto de 2011

3 OS BASTIDORES


O perfil do aluno de Projeto Experimental normalmente é um profissional de mercado, que trabalha oito horas diárias e tem somente a noite para as aulas e executar o seu trabalho. Essa é uma das dificuldades encontradas para o desenvolvimento desse tipo de projeto que necessita de uma atenção especial destes alunos, quase formandos. A falta de horários dificulta ainda mais a produção, principalmente quando se atua na área de pesquisa.
Espera-se que os estudantes recebam de forma excepcional a produção desenvolvida sobre as locutoras.

“Etmologicamente, a palavra locutor vem do latim locutore, significando “aquele que fala”. No entanto, mais do que falar é necessário expressar um significado. Como já foi referido, uma mesma frase pode adquirir conotações diferentes quando é dita em contextos diferentes.
Jorge Valdés elenca oito requisitos essenciais para que o profissional seja considerado um bom locutor: entender o conteúdo; interpretar o texto; transferir as informações; medir o ritmo; matizar; ser natural; convencer; e concluir bem a leitura”. (FERRARETTO, p. 311)

O prazer em fazer o projeto superou todas as dificuldades, por ser um sonho das alunas trabalhar em rádio, além de ter colocado a teoria aprendida na faculdade, em prática.
Hoje não se pode mais conceber essa idéia de profissão de homem. As mulheres surpreendem a cada dia, mostrando que exercem qualquer atividade tão bem quanto os homens. Muitas superam preconceitos e aceitam desafios para ir atrás de um sonho.
“Historicamente, o rádio discriminava a mulher. Só se admitia a mulher como ouvinte. Nunca como profissional do microfone. A situação começou a mudar a partir do espaço aberto por algumas profissionais da extinta Jornal do Brasil AM, nos anos 70, e a partir da atuação das locutoras das rádios Fluminense FM e Antena 1 Lite FM, nos anos 80. Recentemente, as colaboradoras dos programas de comunicadores de AM começaram a galgar mais espaço.
O preconceito que ainda inferioriza as mulheres no mercado radiofônico está hoje na média do preconceito que atinge as mulheres em outros segmentos da sociedade”. (DELFINO, 20/07/04)

Ter conhecido a vida de grandes mulheres que ajudaram e ajudam a construir a história do rádio foi, também, uma grande satisfação.
“Outra aprendiz de feiticeira que vem dando o que falar é Mylena Ciribelli, companheira de Fernando Vanucci no Esporte Espetacular e no Globo Esporte. Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense - UFF, Mylena começou carreira como locutora na rádio Fluminense FM, ainda em 1983. Dois anos depois, seu belo rosto já aparecia na TV Manchete, onde apresentava musicais. Em 88, Mylena enveredou pelo caminho do comentário esportivo,apresentado os boletins das Olimpíadas, ainda na TV Manchete. E a coisa deu tão certo que, três anos depois, acabou sendo convidada para trabalhar na Globo, onde está até hoje. Seu estilo jovem, moderno e bem humorado de locução é hoje uma marca registrada do não menos “moderninho” Globo Esporte” (SILVA, 1994, p. 16 e 17)

A mágica do rádio é o poder de imaginar de quem é a voz, brincar com o imaginário. Com certeza a voz engana muito. A maior parte do público desconhece os rostos das vozes e o que há por trás delas, elas estão envolvidas numa espécie de mistério, só atingíveis por telefone ou pelo rádio. O projeto quebrou o encanto de algumas vozes femininas, ao anexar os rostos delas no trabalho. As vozes das locutoras ganharam nomes e personalidades, deixando de serem entidades desconhecidas.
“Pelo rádio, não dá pra ver. Mas todos têm a sua cara.
Mário Esteves, Ana Flores, Heleno Rotay, Valéria Marques, André Rodrigues, Fernando Borges, Paulo Autunian, Denise Barros e Alexandre Amorim.
Eles são louros. Elas, morenas (ou seria o contrário?). Uns têm olhos azuis. Outros, castanhos. Uns são simpáticos. Outros são verdadeiros gatos. Tem uma que, pela voz, não engana: é baixinha e bastante agitada. Tem outro que leva jeito de ser um tremendo sedutor. Mas a verdade é que para nós, da 98 FM, mais importante do que você imaginar como são, fisicamente, nossos locutores, é você constatar que, para se manter como líderes de audiência por mais de dez anos, é porque eles comandam programas que são a sua cara. E aí, sim: lindos e maravilhosos.
98 FM. Você liga e é mais sucesso”. (propaganda da Rádio 98 FM publicada no Jornal O Globo)

Quantos casos de ouvintes apaixonadas pelo locutor devido a sua voz! Isso é ruim, pois cria uma expectativa fora da normalidade.

“O rádio sugere, o vídeo define e a música emociona.
O RÁDIO SUGERE uma situação, um cenário, um personagem, um lugar ou uma época. O rádio tem a fantástica capacidade de mexer com o imaginário do ser humano, como a histórica transmissão de “A Guerra dos Mundos”, de Orson Wells, em 1938”.
(<http://www.workstationdigital.com/index_radio.htm>)

Somente a junção efetiva de todas as capacidades técnicas, intelectuais, cognitivas, psicológicas, sensitivas, emocionais, intuitivas, sensoriais, instintivas é que irá transformar o indivíduo comum em um comunicador.
“O exercício profissional da locução exige uma série de técnicas e procedimentos que só se aprende em cursos regulamentados. É importante também começar a trabalhar tão logo se acabe o curso de formação. Locutores e locutoras iniciantes precisam estar dispostos a trabalhar em qualquer emissora e em qualquer cidade, se quiserem ir longe nesta carreira”. (DELFINO, 20/07/04)

Dominar corretamente a técnica de locução é um bom princípio para quem deseja seguir a carreira.

“A grande penetração do rádio lhe dá consciência do papel instrutivo relevante que possui. É em função desta consciência, também da nitidez da comunicação e do respeito ao ouvinte, que a linguagem correta se impõe na transmissão radiofônica.
Concluindo, o rádio exige uma linguagem: nítida, simples, rica, repetitiva, forte, concisa, correta, invocativa e agradável”. (PORCHAT, 1989, p. 99)


Da mesma maneira que tem gente querendo extinguir e promover uma queima de arquivo da história do rádio, têm pessoas interessadas na sua preservação; o que é bem mais importante: o prazer em ajudar a preservar a memória do rádio no Brasil e ter colaborado, voluntariamente, foi uma grande experiência.
Com a entrega deste material tentar-se-á a recuperação da história do rádio, tornando o acervo mais rico, com mais opções para os estudantes e os profissionais da área ou não, que desejam ter conhecimento da locução feminina.

“Ela só é possível e daquele modo, pela existência de uma categoria profissional importantíssima - o locutor - que de há muito é esquecida pela imprensa e desprestigiada pelo próprio meio que dela se utiliza: o rádio. O locutor é profissional de especializadíssima função, a quem se paga baixos salários e hoje está ameaçado de desaparecer do rádio e da TV, substituído, muitas vezes, por pessoas de pobre expressão oral, dicção péssima, sem qualquer noção de califasia, que é a arte de falar eufônico, agradável e belo. Trata-se de matéria tão importante que deveria ser ensinada na aula de comunicação e expressão e nunca foi. A meu tempo, estudávamos caligrafia. Hoje nem isso. O resultado é a fala torpe, grosseira e mal conduzida, com voz fora do lugar, deglutição de letras e sílabas e som horroroso. O locutor é o profissional que repõe a qualidade e a elegância do falar como forma de expressar alguma estesia da alma. O mais importante é que assim se preserva o idioma. Falo, portanto, de matéria seríssima. Felizmente ainda há por aí magníficos locutores e locutoras no rádio e na televisão. Mas escasseiam. Na TV, desde que substituíram locutores por jornalistas, a função indispensável de ler com segurança (e sem caras e bocas opinativas...) está a desaparecer. Reparem que o apresentador a meu ver padrão, o William Bonner, não é bom só por ser jornalista. É bom por ser ótimo locutor também, observe-lhe a voz, a tranqüilidade na emissão, a dicção perfeita. ...
Grande Zarife! Com ele morre um pouco mais a profissão já agonizante do locutor; o herói quase anônimo das emissoras de rádio, das propagandas, das leituras e narrações dos documentários. Profissão que lhe honrou e dignificou”. (TÁVOLA, 11/01/00)

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