quarta-feira, 24 de agosto de 2011

3.12 A magia da voz


“...E o rádio seduzia o público a tal ponto, que no final dos anos 30, uma rica senhora da alta sociedade carioca, ouvinte assídua da rádio Nacional e do locutor, dramaturgo e radioator Saint-Clair Lopes acabou se apaixonando por sua voz. A obsessão durou anos, atingindo o seu clímax quando a mulher morreu e em seu testamento deixou uma fortuna para Saint-Clair, sem jamais ter tido qualquer contato pessoal com ele”.
(<http://planeta.terra.com.br/lazer/sintonia/causos.htm>)

A voz, a comunicação pelos sons, sempre foi uma das principais características do homem. Desde os primórdios da humanidade, a relação entre os homens se dava predominantemente através dos sons.

“Uma nova linguagem
Roquette-Pinto exemplifica o fenômeno fundamental do rádio: o de um homem ao microfone, dirigindo-se a uma platéia sem rosto e numericamente imprevisível. Para o receptor, no entanto, é como se o emissor se dirigisse a ele em especial, como um único ouvinte. De certo modo, à comunicação radiofônica caberia a definição que Nietzche aplicou ao seu Assim falava Zaratustra: uma voz para todos e para cada um.
A fala do rádio pode cobrir uma gama que vai do tom impessoal e indeterminado até o mais íntimo, confidencial, quase secreto. Mas antes de falar ao outro, o emissor tem de falar a si mesmo. O narrador é o primeiro a se ouvir. Cabe a ele julgar, antes de qualquer outro, a verdade das palavras que emite, avaliar a sinceridade ou a nota falsa de seus sentimentos. É a condição para que o pensamento se mostre como a expressão do que o homem tem de mais pessoal - primeiro passo para a conquista da credibilidade, meta principal de todo locutor, speaker ou comunicador.
Dispensando a presença física do orador, do professor ou do ator na sala de espetáculos, o rádio dá ao comunicador uma via em uma única dimensão e em uma só direção, mas rica o suficiente para estabelecer através da fala um contato vivo, espiritual, entre duas consciências”. (SAROLDI, 1999, p. 149)

A voz, que é um "instrumento mágico", sem pós de “pirlimpimpim” à mistura, é uma varinha de condão no poder destas locutoras, magas da comunicação, que a usam com mestria e paixão.

“A palavra permite-nos dizer apenas aquilo que se deve dizer. Isto é, o que o código lingüístico autoriza. Isto implica que a vivência (a totalidade expressiva de um sujeito) pessoal seja sempre maior do que a palavras. Comunicar-se verdadeiramente é tentar superar as barreiras da incomunicação, as restrições do código, e dar curso livre à vivência”. (SODRÉ apud MANSUR, 1984, p. 71)

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