quarta-feira, 24 de agosto de 2011

2 MULHERES PRODUZINDO


Construir o projeto A locução feminina no rádio carioca em forma de CD exigiu um esforço considerável no sentido de cumprir a tarefa nos prazos estipulados, uma vez que demanda uma grande quantidade de tempo.
A produção envolveu além das duas alunas idealizadoras do Projeto; um operador de áudio; um publicitário; colaboração de profissionais do meio e a orientação de três professores.
O documentário traz depoimentos orais de profissionais da área de comunicação, músicas e narrações com as vozes das autoras do projeto.
“Eu adoro a locução feminina. É mais clara, alegre e jovial que a masculina. Pra informação é perfeita. Não se perde detalhes. Só não fica boa quando as mulheres tentam imitar os homens, “falar como homem”.  Aí, perdem o que elas tem de melhor: uma doce energia suave na voz! Viva as mulheres”. (BARBOSA, 29/03/04)

O trabalho de equipe foi fundamental para a coleta de horas de depoimentos e para a seleção das fontes a serem entrevistadas, assim como a confecção coletiva do roteiro contribuiu para a construção de um elo das “tantas” histórias, de forma a dar sentido ao todo.
A pesquisa bibliográfica foi feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, microfilmagens, revistas, jornais, artigos científicos, páginas da web, acervos bibliotecários sobre o tema e gravações, com o objetivo de recolher informações e conhecimentos prévios sobre o assunto.
“Durante o período de 1923 a 1943, muitas mulheres se destacavam nas mais diversas atividades. Enfrentaram desafios de uma época em que o trabalho feminino era restrito ao lar. Porém, não permaneceram omissas, e buscaram, nas mais variadas atividades, conquistar um espaço marcante na história.
Paralelamente, nesse período, o Rádio nascia como o objetivo principal de difundir a cultura e informar para formar. Esse poderoso veículo de comunicação, através do som e das vozes, mexia com a fantasia e o sonho de seus ouvintes. Quando de sua implantação no Brasil, os artistas precursores lutaram com muitas dificuldades. Tudo era novidade e a improvisação foi a escola daqueles que optaram pela carreira radiofônica”. (TESSER, 1994, p. 159)

A bibliografia nacional, assim como a reconstituição histórica sobre a locução, são precárias. Uma rica fonte de pesquisa, foram os profissionais que atuaram e ainda atuam no rádio, que foram ouvidos para que os dados fossem resgatados. Basicamente, essas duas frentes foram utilizadas: pesquisa documental e resgate de informações por meio de entrevistas.
“Há várias funções femininas no rádio de hoje:
- há as comunicadoras, titulares de programas que variam de estilo, principalmente em FM (algumas gritam muito);
- há uma nova espécie de "atrizes, incidentais, coadjuvando o trabalho dos comunicadores, como, por exemplo a ótima Aldenora Santos, a "pudica", que é aliás, ótima no programa do Antonio Carlos e a Juju que é viva e alegre só que grita no microfone;
- há as mulheres que fazem parte das mesas redondas, em geral com brilho;
- há uma outra categoria que eu pessoalmente muito admiro, as repórteres femininas, das várias emissoras, principalmente Globo, Tupi, Nacional, MEC-AM, CBN. São muito bem preparadas e com os repórteres homens, são a alma viva do rádio, um de seus melhores patamares, com entradas em todos os programas, sempre ágeis e informando bem como por exemplo a Ermelinda Rita;
- há as mulheres comentaristas especializadas, tipo Mirian Alencar que aliás é imperdível; e
- há a antiga figura das locutoras de estúdio e dentre estas eu destacaria a qualidade do trabalho da Daniela Lapidus da Rádio MEC-FM.
Espero haver atendido, ainda que de modo breve, a sua necessidade. O tema é enorme e dá para muito.
Boa sorte no Trabalho.
Fraternalmente,
Artur da Távola” (TÁVOLA, 29/04/04)

As fontes documentais foram lidas e ouvidas e as entrevistas gravadas, transcritas para serem avaliadas, comparando-se os dados obtidos, checando eventuais lacunas, contradições que surgiram a partir do confronto do material obtido ao final da pesquisa.
Foi realizado o levantamento documental, a identificação de possíveis entrevistadas, tanto as já aposentadas, como as que estão na ativa e que tenham um trabalho significativo no setor, inclusive as representantes da nova geração e a realização de entrevistas com as mais representativas locutoras/apresentadoras do rádio brasileiro.

“Apresentador: via de regra, não lê textos, apresentando os programas apenas com um “roteiro” dos conteúdos previstos. Tem condições de analisar, comentar e opinar sobre os fatos que está apresentando, com liberdade de ação. Também realiza entrevistas e coordena debates no próprio estúdio”. (ORTRIWANO, 1985, p. 102)

Os esforços foram concentrados nas profissionais que representam a história do rádio.
“A empresária Anna Khoury, fundadora das rádios cariocas Eldorado AM e Imprensa FM
O Brasil perdeu, em 1992, uma das mais influentes mulheres no setor das comunicações e da informação: Dona Anna Khoury. Tenaz, combativa, resoluta, Anna Khoury pode ser considerada a equivalente feminina de Roquete Pinto e símbolo da luta de emancipação do universo feminino. (A história da radiodifusão no Brasil pode-se dizer, está dividida em duas etapas: antes e depois de Anna Khoury)”. (PACELLI)

O objetivo foi resgatar a evolução da locução feminina mostrando, também, as diferenças entre os primeiros modelos de locução e os de hoje.
“É através da locução que a audiência percebe a intenção da rádio. Se é morna, doce, rápida, acelerada, jovem, velha, atual, informada, chata, irritante, legal, descontraída e assim por diante. É o locutor quem mais vende a personalidade da rádio. Se tem uma boa voz (para o público alvo), é bem informado(para o público alvo), é criativo (para o público alvo), alegre(para o público alvo). Tudo o que sai da boca do locutor, por mais independente e por mais personalidade que tenha, é sempre a voz da rádio. É principalmente por ele que os ouvintes percebem o produto. Sua contratação deverá ter sido feita a partir de um perfil adequado. O seu trabalho é de venda. Tem que vender além das músicas; o principal é o interesse dos ouvintes em ficarem ligados na programação. O locutor tem que estar muito bem informado a respeito dos objetivos da programação e da própria programação (das músicas).
É interessante observar que apesar de muitas emissoras, poucos são os que realmente se destacam. Há um padrão informal na locução em cada estilo. Repare os locutores esportivos; todos gritam “gol” e fazem suas narrações da mesma forma cadenciada, usando quase sempre a mesma entonação. Somente os que acompanham aquelas transmissões com freqüência conseguem distinguir uns dos outros. No FM é o mesmo. Nas rádios jovens os DJs (disck jokeys – locutores que também tocam as músicas: locutores-operadores) falam aceleradamente, com o “bg” (background)sempre em tom festivo. Nas rádios românticas, nas de samba, nas adultas; em cada uma delas vamos encontrar particularidades que se generalizam em um padrão. Aí se destaca aquele que consegue inovar dentro do seu estilo. A notoriedade vem da percepção do ouvinte em reconhecer o talento que o diferencia dos demais apesar da padronização. “O grito de gol do.... é muito mais emocionante! O jeito de anunciar as músicas do .... é mais legal ! A maneira de informar do... me prende mais! O jeito de contar uma história do .... é emocionante!”
Também aí sente-se a atuação do coordenador. Na orientação e direção para o melhor aproveitamento do locutor dentro do esquema da rádio”. (RAYMUNDO, 1994, p. 60)


A elaboração do roteiro foi fundamental, pois definiu a estrutura geral do projeto e permitiu traçar as etapas de trabalho que foram necessárias para a viabilização do mesmo.
Foi elaborado um roteiro, de maneira clara e organizada para ser facilmente compreendido por todos e que serviu de guia para a elaboração, produção e gravação do CD, contendo os textos que foram lidos pelas apresentadoras e todo o trabalho técnico, as entradas das trilhas, dos comerciais, das músicas, das entrevistas gravadas, das vinhetas e dos efeitos sonoros.
No momento da elaboração do roteiro, as definições em relação ao público-alvo, ao estilo do programa e à locução, já tinham sido realizadas, a fim de que fosse produzido um documentário adequado ao segmento pretendido, que são as mulheres que sonham em ser locutoras; os estudantes; e os profissionais da área de comunicação.

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